Maio de 1989. Manhã bonita em São Paulo. Oito horas e pouco, um jornalista entra na então grande – e, àquela altura, vazia – redação da sucursal paulista do Jornal do Brasil, no 15º andar de um moderno edifício defronte ao prédio-pirâmide da Federação das Indústrias, na Avenida Paulista.
Só se ouve o zzz do ar condicionado e, ao fundo, um barulhinho de máquina de escrever:
— Plec, plec, plec…
O JB está prestes a se informatizar, de modo que sólidas Olivetti máquinas de escrever são ainda dedilhadas pelos jornalistas. No caso, dedos ilustres: trata-se de Carlos Castello Branco, o Castellinho, o maior jornalista político do país, redigindo sua Coluna do Castello para o dia seguinte antes de ir para o aeroporto tomar o avião de volta a Brasília, onde comandava a poderosa sucursal do jornal. [Na foto deste post, ele está à direita do então presidente Jânio Quadros.]
O jornalista cumprimenta Castellinho, oferece água e café, sugere que ocupe a sala do diretor da sucursal. Castellinho, cuja grandeza era proporcional à simplicidade, diz que não, obrigado, já está terminando o texto. É sobre o ex-presidente Jânio Quadros, de quem fora secretário de Imprensa durante sua breve Presidência e a quem, na véspera, veio visitar. Jânio insistiu – ou “ordenou”, conta Castellinho – que ele passasse a noite em sua casa,uma mansão de dois andares no bairro do Morumbi. E assim foi.
Conversam sobre a campanha presidencial, já esquentando as turbinas.
Fernando Collor, governador de Alagoas, a essa altura já havia disparado nas preferências do eleitorado e subia em alta velocidade, impulsionado por dois programas de TV de divulgação obrigatória de dois pequenos partidos políticos. Jânio, encerrando de vez especulações a respeito, diz a Castello que sua saúde o impede de concorrer, hipótese em que, jacta-se, “passaria de trator” sobre os concorrentes.
Não concorrendo, apóia o ex-vice-presidente Aureliano Chaves, candidato do PFL, de nanicas intenções de voto.
A certa altura da conversa, inevitavelmente Castelinho menciona Collor, àquela altura o grande fenômeno em andamento na campanha.
O ex-presidente, sempre um artista, dispara a pergunta:
– E quem é este senhor?