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Kerry Kennedy abraça o presidente Joe Biden num evento de campanha em Filadélfia, em abril. Da esquerda para a direita, outros irmãos de Robert.:  Maxwell Kennedy Sr., Joe Kennedy II, Kathleen Kennedy Townsend e Christopher Kennedy (Foto: @AP/Alex Brandon)

Ele tem sorriso de Kennedy, dentes de Kennedy, olhos de Kennedy, queixo de Kennedy e sangue de Kennedy – mas, em matéria de ideias, o ex-candidato independente à Presidência dos EUA Robert Kennedy Jr. está muito distante dos principais ideais da lendária dinastia política da família – e nada melhor para mostrar isso do que subir ao palanque de Donald Trump na semana passada.

Robert Jr., advogado, 70 anos aparentando menos, 1m85 de altura, terceiro dos onze filhos do senador que foi assassinado quando próximo de obter a indicação do Partido Democrata para a Presidência, em 1968, se apresentava como terceira via ao “caos” de Trump e à “velhice” de Biden. Sua campanha chegou a proclamar que o candidato tinha 11% de intenções de voto – mas um grande problema, para ele, é que entre esses 11% não nunca esteve sua mítica família, parte integrante do primeiro plano da política americana há 70 anos.

“O apoio de Bobby Jr. a Trump é uma traição explícita aos ideais em que seu pai acreditava”, disse à CNN o primo Steven Kennedy Smith. Mesmo antes do apoio a Trump, a família não apenas apoiava o presidente Biden (e, agora, a vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata), como critica severamente a Robert Jr.: quinze Kennedys já se manifestaram, começando por seis de seus  próprios oito irmãos vivos, pela única filha do presidente John F. Kennedy, Caroline Bouvier Kennedy, advogada e ex-embaixadora dos EUA no Japão, e pelo único neto do presidente assassinado,  John Bouvier Kennedy Schlossberg, egresso da Universidade de Yale e da Escola de Direito de Harvard, que ridiculariza o primo todo santo dia em sua conta no Instagram.

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Rory Kennedy, cineasta e irmã de Robert Jr.: “Sua candidatura é perigosa para os EUA” (Foto: @Glamour)

“A decisão de nosso irmão Bobby de concorrer por um terceiro partido contra Joe Biden é perigosa para nosso país”, disse, em nota divulgada em nome da família, a cineasta indicada a um Oscar Rory Kennedy. “Bobby pode compartilhar o mesmo nome de nosso pai, mas não compartilha os mesmos valores, a mesma visão ou os mesmos critérios”.

“A candidatura de Bobby constitui uma ameaça ao país que eu amo e aos valores que defendo”, bate na mesma tecla o sobrinho Joseph Kennedy III que, tal como o pai, Josep II, o Joe, foi deputado por oito anos por Massachusetts e é desde 2022 o enviado especial dos EUA para assuntos econômicos na Irlanda do Norte. “Creio que sua candidatura pode retirar apoios ao presidente Jose Biden e acabar reforçando as possibilidades de Donald Trump”. Na verdade, ele foi mais longe, aderindo a Trump, embora a esta altura seu índice de intenção de voto esteja entre 1% e 2%.

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Robert Kennedy Jr. e a terceira mulher, a atriz Chreyl Hines. Ele teve dois filhos com a primeira mulher e quatro com a segunda (Foto: @New York Post)

O único neto do presidente assassinado, Joe Schlossberg, como é conhecido, procura fazer humor em seu Instagram e sempre bate duro. Já chamou Robert Jr. de “babaca” (tradução amena da palavra original em inglês). Sua agressividade levou o jornal The New York Times a afirmar que ele está “escalando a guerra civil interna da dinastia política mais famosa dos Estados Unidos”. O neto do presidente Kennedy insinua que Robert usa esteróides, diz que ele “mente”, é um “fantoche” do ditador russo Vladimir Putin e um “cavalo de Tróia” para favorecer Donald Trump.

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O único neto do presidente Kennedy, Joe Kennedy Schlossberg: Bobby Kennedy Jr. é um “fantoche” do ditador Putin (Foto: @AP)

E por que tudo isso? Afinal, Robert Kennedy Jr. tem uma longa lista de serviços prestados para o, digamos, lado do bem. Começou sua carreira como advogado especialista em meio ambiente, com foco na questão da água e sua  preservação. Trabalhou também na Hudson Riverkeeper, entidade que luta pela preservação do rio Hudson, de 517 quilômetros, que percorre de norte a sul o Estado de Nova York, e foi um dos principais advogados do Conselho Nacional de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC, pelas iniciais em inglês), influente ONG com 3 milhões de membros e 700 especialistas em diversas áreas.

Sua atividade levou-o com frequência a processar agentes poluidores e a participar de diferentes esforços para a restauração de ecossistemas. Kennedy Jr. também é há anos crítico de práticas empresariais que prejudicam o meio ambiente e a defender leis e regulamentos mais duros em defesa dos recursos naturais.

O outro lado de Robert Jr. é que é o problema. Adepto firme de teorias da conspiração, durante a pandemia postou-se como grande inimigo da vacina contra a  Covid e a prática de vacinação em geral, divulgando sem qualquer base científica a tese de que vacinas causam autismo. No mesmo capítulo, chegou a defender a tese de que o vírus da Covid é produto de laboratório – hipótese totalmente descartada por centenas de estudos e especialistas mundo afora. Ele levanta dúvidas sobre se o assassino de seu pai, Bobby Kennedy, Sirhan Sirhan, foi realmente responsável pelo crime, a despeito de dezenas de testemunhas do ato e da confissão do autor. Costuma divulgar também a a tese de que os tiroteios a esmo que costumam ocorrer em escolas e outros centros de aglomeração, com dezenas de morto a cada vez, têm a ver com o consumo de andidepressivos, sobretudo o Prozac.

Não por acaso, Robert Jr. tornou-se um frequente entrevistado na Fox News, principal voz da extrema direita e de Donald Trump nos EUA. Ele chegou mesmo a fazer declarações antissemitas, de forma que qualquer que seja seu programa de governo, não é o que se comenta a seu respeito.

A coisa chegou a tal ponto que sua própria mulher, a atriz Cheryl Hines, ao apresentar o marido dias atrás num auditório em Filadélfia, disse que “as opiniões dele não refletem a minha”, referindo-se a um tweet que Bobby publicara no final do ano passado comparando a vacinação obrigatória com métodos da Alemanha nazista.

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O presidente Kennedy com Jacqueline em carro aberto em Dallas, no Texas, instantes antes de ser assassinado a 22 de novembro de 1963 (Foto: @Reprodução CBS TV)

Finalmente, para vergonha da família, vazou o fato de que Bobby Jr. – que é muito rico – batalhou um lugarzinho no governo do futuro presidente. No de Trump, conseguiu: o próprio candidato anunciou no comício de adesão que Bobby Jr. vai presidir uma ainda indefinida “comissão presidencial independente” que, além de liberar supostamente “todos” os documentos ainda secretos sobre o assassinato do presidente Kennedy, vai rever tudo o que foi apurado sobre o atentado que matou seu irmão Robert Kennedy, em 1968, e – não podia deixar de ser – aprofundar investigações sobre o tiro que atingiu sua própria orelha no dia 13 de julho passado.

O Kennedy “maldito” também buscou contato com Kamala Harris e seu entorno, mas não recebeu resposta.

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2 Comentários

CARLOS NASCIMENTO em 31 de agosto de 2024

Ricardo, Estamos precisando de suas opiniões, por aqui o ¨X¨já foi tirado do ar, a democracia brasileira ....... já começa a dar sinais de sua exuberância pretoriana, o padrão da Venezuela virou sonho de consumo do governo brasileiro no modus operandi de governar seu povo, grande parte da imprensa que faz cara de paisagem para os absurdos que estão sendo cometidos contra a liberdade de expressão, vão provar do próprio veneno, não vai demorar muito. No âmbito esportivo, lamento lhe informar que o seu ¨CURINTIANS¨ continua na zona.....aquela do rebaixamento. Me parece que nem em Paris se encontra mais luz..........abçs.

CARLOS NASCIMENTO em 26 de agosto de 2024

Caro Ricardo, Fico aqui pensando se JFK se ainda estivesse entre nós, continuaria com o mesmo fervor de continuar defendendo os ideais dos Democratas, defendem até aborto............

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