O atentado sofrido pelo ex-presidente republicano Donald Trump durante comício de campanha na Pensilvânia ocorre num momento particularmente difícil para o presidente Joe Biden, o titular democrata.
Biden diz e reitera que não deixará de concorrer à reeleição, a despeito de crescer o número de políticos, analistas, órgãos da mídia e pessoas de sua própria equipe de campanha que defendem que ele se afaste por não ter as condições físicas e cognitivas necessárias para governar a superpotência americana.
Já passa de duas dezenas o número de deputados democratas que publicamente pediram ao presidente que dê passagem a outro candidato, enquanto correria uma lista de 100 outros parlamentares que fariam o mesmo. Celebridades como o ator George Clooney, que doou 30 milhões de dólares para a campanha de Biden, fez o mesmo, assim como o mais influente jornal do país e do mundo, o The New York Times, tradicional fortaleza democrata, em editorial assinado por todos os seus editorialistas e publicado com na sexta-feira, 28 de junho, com grande destaque e o arrasador título: “Para Servir a Seu País, o Presidente Biden Deveria Deixar a Disputa”.
Na mesma sexta-feira, Biden pôde medir a temperatura do partido ao fazer um comício em Detroit, no Michigan, um dos Estados considerados chave para a vitória de um candidato na eleição de novembro. A popular governadora Gretchen Whitmer, que – veja só! – é co-presidente do comitê de campanha de Biden, não compareceu por ter programado presença numa conferência de executivos de mídia e de tecnologia no Estado de Idaho. Tampouco apareceram os dois senadores democratas pelo Estado, Debbie Stabenow e Gary Peters, alegando compromissos assumidos anteriormente. Outra ausente foi a deputada Elissa Slotkin, candidata democrata a substituir Stabenow no Senado.
Todos saudaram Biden apenas nas redes sociais. A deputada Elissa foi mais além. Num vídeo destinado a doadores para sua campanha, ela disse que Biden está muito atrás de Trump nas pesquisas de intenção de votos, e não se esqueceu de assinalar que concorre ao Senado porque Stabenow, aos 74 anos (Biden tem 81) resolveu “fazer algo radical e passar a tocha” a outro político.
A governadora Gretchen Whitmer é cogitada como possível cabeça de chapa democrata se Biden eventualmente se decidir não concorrer. Ela ficou nacionalmente conhecida por trombar com Trump durante toda a duração da pandemia, realizando um trabalho enorme de vacinação em seu Estado, decretando um enérgico lockdown – coisa que Trump detestava, razão pela qual não chamava Whitmer pelo nome, mas como “aquela mulher do Michigan” -, enfrentando manifestação de trumpistas portando armas na frente do palácio do governo e sendo ameaçada de morte.
Ela, porém, em entrevista à CNN, descartou a hipótese de se candidatar, mesmo que Biden desista, o que não diminuiu a especulação a respeito. Para arrematar, na mesma entrevista, Whitmer, 29 anos mais jovem que Biden, dissse que “não faria mal” se o presidente se submetesse a um exame cognitivo para assegurar a seus apoiadores e eleitores potenciais sobre sua saúde e boas condições.
No domingo, Biden falou à nação do Gabinete Oval da Casa Branca e mostrou-se elegante com um adversário absolutamente deselegante – se disse grato por Trump não ter sofrido maiores consequências, informou ter telefonado na véspera para o ex-presidente e afirmou que não cabe em hipótese alguma violência nas disputas eleitorais em uma democracia. Pediu paz e união, afirmando em relação à polarização política: “A retórica política esquentou muito em nosso país. É hora de baixar a temperatura. Não podemos permitir que essa violência seja normalizada. Todos nós temos a responsabiliade de fazer isso”. (…) “Uma tentativa de assassinato é contra tudo o que defendemos como nação. Não é o que somos, não é a América. (…) “Em nosso país, resolvemos nossas diferenças” em uma cabine de votação, “não com balas”.
Trump divulgou uma curta declaração também falando em “união”. Ele deve comentar exaustivamente o atentado no último dia da Convenção Nacional Republicana, quinta-feira, 18 de julho, em Milwaukee, em Wisconsin, durante cujos quatro dias será formalizada sua candidatura pelo partido e aprovado seu programa de governo, Trump vai apontar seu candidato a vice.
Biden fala do Gabinete Oval sobre o atentado: pede paz e união (Foto: @The White House)
A fala de Biden também pode ser interpretada como mais um ato demonstrando que o presidente está lúcido e em condições, após sua catastrófica participação no primeiro debate com Trump, no dia 27 de junho, em Atlanta. Depois disso, ele fez alguns comícios entusiásticos mas embasbacou durante entrevista coletiva justamente destinada a mostrar que o fracasso no debate teria sido apenas uma “má noite”: como se sabe, apresentou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como “Putin” (justamente o ditador russo Vladimir Putin responsável pela invasão da Ucrânia) e referiu-se ao adversário Trump como seu vice (e não à titular, Kamala Harris). Corrigiu-se imediatamente e procurou brincar com as situações, mas as TVs do planeta mostraram a cara de espanto e desconcerto de Zelensky durante angustiosos segundos.
Li muito antes de escrever este post, assisti a várias emissoras de TV de diferentes países, e só constatei uma perplexidade geral diante do que ocorrerá daqui para diante. Ninguém sabe ainda os motivos do atentado cometido pelo jovem nerd de 20 anos que atirou oito vezes com um fuzil AR-15 desde o teto de um edifício próximo ao comício de Trump. Obviamente, o ex-presidente vai se aproveitar do atentado (basta ver a foto que já está circulando em todo o planeta, dele com sangue escorrendo do rosto mas com o punho desafiadoramente no alto, como se fosse inexpugnável), e acabará adotando o papel de mártir por causa de suas ideias.
O atentado tende a fazer Trump subir nas pesquisas e também o favorece porque paralisa por alguns dias a campanha de Biden. E, com Trump subindo e o clima de comoção causado pela tentativa de assassinato, pode diminuir as declarações públicas de democratas para que Biden desista, além de afastar possíveis pretendentes à candidatura que o presidente teimosamente continua levando adiante.
ATUALIZAÇÃO
Na convenção republicana em Milwaukee, Trump fez uma aparição com curativo na orelha, não fez discurso (isto é no último dia, nesta quinta-feira, 18 de julho). E designou como seu candidato a vice o senador de primeiro mandato por Ohio J. D. Vance, de 39 anos, de ideias em alguns casos mais reacionárias do que o chefe.
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2 Comentários
Grande RS Que maravilha o termos novamente em atividade , vc não tem ideia da falta que faz aos nossos prazeres culturais, sua verve é única, estarei acompanhando com toda certeza : politica, esportes, músicas, curiosidades, etc...... O seu Corinthians continua horrível, em compensação o Madrid agora com MBAPPE vai voar. Forte abraço. Carlos Nascimento. Caro Carlos Nascimento, este site não seria o mesmo sem você!!! Juro!!! Muito obrigado por suas boas palavras a meu respeito. Sim, o Corinthians tem me feito sofrer, e a todos os demais torcedores. Está numa situação nunca vista por causa da dívida do estádio, que é impagável. Quanto ao Real Madrid, realmente é uma fortaleza. Torço também pelo clube desde a adolescência, quando o grande Didi, da seleção campeã mundial de 1958, foi contratado. E lá estavam também mitos extraordinários como Di Stefano e o grande Puskas, da extraordinária seleção húngara que só por milagre não foi campeã mundial em 1954. Seja benvindo aqui! Um grande abraço
Caro Ricardo, um prazer te observar em ação, como sempre. Forte abraço, André Singer Caríssimo André, é uma honra ter alguém que tanto estimo e respeito visitando este recém-lançado site. Vivo há anos fora do Brasil, mas vou todo ano a SP. Teria imenso prazer em rever você. Talvez vá em setembro. Grande abraço