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A reunião: espantoso nível de desrespeito, pela mais alta autoridade do país, em reunião oficial, realizada na sede da Presidência da República(Foto: Marcos Corrêa/PR) (Foto: @Marcos Corrêa/PR)

Graças ao ministro do Supremo Celso de Mello, os brasileiros de bem foram informados de que, se um dia o atual presidente da República resolvesse aparecer em sua casa, as crianças precisariam rapidamente ser retiradas da sala. Se as mães estivessem presentes, não deveriam deixar Bolsonaro passar da porta de entrada.

O vídeo gravado na reunião de 22 de abril deste 2020 mostra que, com suas intervenções, jamais na história de 130 anos de República um presidente, como Jair Bolsonaro, teve comportamento público tão distanciado do decoro mínimo exigido pelo cargo — indecente, grosseiro e cafajeste seriam palavras delicadas para defini-lo.

Esse auge do desrespeito ocorreu numa reunião destinada a discutir coisa séria – como planejar o crescimento do país depois de terminada a pandemia. A falta de modos estendeu-se a vários ministros na reunião, conduzida pelo ministro da Defesa, general Braga Neto, que manteve o decoro chamando a todos os presentes de “senhor”.

A decisão de tornar público o conteúdo do vídeo foi decorrência de declarações feitas pelo então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que havia renunciado ao cargo pouco depois da reunião, segundo as quais Bolsonaro estaria tentando interferir na Polícia Federal para proteger interesses pessoais, incluindo possíveis investigações que poderiam envolver seus filhos.

As palavras de Moro levaram o Supremo Tribunal Federal a abrir inquérito para investigar o assunto, e o ministro Celso de Mello, decano da Corte, foi escolhido relator por sorteio. Na condição de relator do caso, o ministro recebeu o vídeo com a gravação da reunião ministerial como parte do material para seu trabalho.

Ao decidir pela divulgação do vídeo e prestar um serviço aos brasileiros de bem, Celso de Mello mencionou a importância da transparência e da publicidade dos atos governamentais, especialmente quando envolvem suspeitas de ilegalidade ou abuso de poder, argumentando que o interesse público em conhecer o conteúdo do vídeo superava qualquer necessidade de sigilo.

Não preciso me estender muito sobre o conteúdo propriamente dito da reunião, porque várias barbaridades proferidas na reunião no Palácio do Planalto receberam enorme divulgação. Mas segue um resumo no final deste texto.

Antes, quero relatar a estatística que fiz, espantosa pelo nível de desrespeito, de palavras ou expressões grosseiras e palavrões proferidos durante a reunião pela mais alta autoridade do país em reunião oficial, realizada na sede da Presidência da República:

Porra: palavrão utilizado 12 vezes

Bosta: 7 vezes

Putaria: 4 vezes

Merda: 4 vezes

Puta que pariu: 2 vezes

Filho da puta: 2 vezes

Foder: 1 vez

Puta: 1 vez

Foi pro saco: 1 vez

Trozoba (procure no dicionário se não souber o que significa): 1 vez

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À direita de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro Sérgio Moro não pareciam muito felizes. Constrangimento? (Foto: @Presidência da República)

Agora, um resumo de intervenções diversas, várias incluindo grosserias, feitas ao longo da reunião pelo presidente e alguns ministros:

– O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu que o governo deveria aproveitar para afrouxar regulamentos na Amazônia enquanto a atenção da imprensa e da opinião pública está voltada para a pandemia da Covid-19 e os milhares de mortos que causa. Referiu-se à liberação de práticas condenadas na Amazônia como “deixar passar a boiada”;

– Bolsonaro classificou o governador de São Paulo, João Doria, de “bosta”,  mesmo qualificativo que aplicou ao prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, e chamou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de “estrume”’.

– Bolsonaro disse ainda dispor de um “sistema particular de informações” e que é surpreendido por notícias publicadas na mídia porque não recebe informações da PF, dos serviços de inteligência das Forças Armadas e da Agência Brasileira de Inteligência;

– Diante disso, assegurou: “Eu não vou esperar foder a minha família toda para trocar segurança, chefia da segurança ou ministro”.

– Bolsonaro queixou-se das pressões que tem recebido para exibir publicamente exames negativos de Covid-19 e disse considerar a abertura de um eventual processo de impeachment contra ele por esta razão seria “babaquice”;

– O ministro da Educação, Abraham Weintraub, opinou genericamente, referindo-se a diferentes políticos e agentes públicos, que não nomeou, exceto por um colegiado: “Eu botava todos esses vagabundos na cadeia, começando pelos ministros do Supremo”

– O ministro da Economia, Paulo Guedes, ofendeu o maior parceiro comercial do Brasil, dizendo que o Brasil “tem que aguentar” a China, porque o país exporta para o mercado chinês três vezes mais do que para o os Estados Unidos;

– O mesmo Paulo Guedes afirmou que, com o BNDES e a Caixa Econômica, “a gente faz o que a gente quer”. Mas que no Banco do Brasil “a gente não consegue fazer nada”, e sugeriu: “Então, tem que vender essa porra logo.”

Acho que este post já está de bom tamanho, não?

O Brasil merece coisa muito melhor.

(Texto originalmente publicado a 22 de maio de 2020 durante período em que o site, ainda inacabado, esteve no ar de forma experimental)

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1 comentário

ELIEZER RIZZO DE OLIVEIRA em 18 de agosto de 2024

O texto evidencia o destempero e a falta de ética mínima da parte do então Presidente e de outros participantes. No entanto, não constituíram surpresa, pois o chefe maior empregara palavrões e fora desrespeitoso com mulheres e homens em diversas ocasiões. Vale o registro para a História.

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