- São vários os mitos sobre a origem do Rolls-Royce utilizado nas posses de chefes de governo desde a do presidente Juscelino Kubitschek, a 31 de janeiro de 1955 – excetuada a de José Sarney (15 de março de 1985), pela morte do titular, Tancredo Neves, antes de assumir
Um desses mitos é o de que o carro foi uma doação da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, ao governo brasileiro.
Não, não foi.
Tampouco é correta a versão que, há alguns anos, o próprio Palácio do Planalto forneceu sobre o assunto e que permanece a oficial. Eu mesmo escrevi a respeito, pouco antes da posse de Dilma, a 1º de janeiro de 2010, no blog que mantive entre setembro de 2010 e março de 2015 no site da revista VEJA. O texto é este:
“Com 55 anos de uso [agora são 68], ele ainda não chegou aos 30 mil quilômetros. O Rolls-Royce conversível da Presidência da República que vai transportar a presidente Dilma Rouseff no dia de sua posse, 1º de janeiro 2011, está nos trinques e pronto para a tarefa. Trata-se de um modelo Silver Wraith Formal Cabriolet, com carroceria fabricada pela empresa britânica H. J. Mulliner & Co. S
“Com bancos de couro e madeira legítima revestindo parte do interior, o Rolls presidencial, macio e silencioso, tem motor 4,5 de 6 cilindros e uma potência relativamente pequena para um carro de 1,9 tonelada: 120 cavalos. Funciona com tração traseira e câmbio manual de quatro marchas. Ao longo dos anos, sofreu vários reparos e reformas executados pela empresa britânica.
“Ainda circula a lenda de que o Rolls foi um presente da rainha Elizabeth II, do Reino Unido, ao presidente Getúlio Vargas (1951-1954). Na verdade, Getúlio efetivamente recebeu o reluzente, esplêndido veículo de presente de empresários brasileiros, mas o destinou a uso público, inicialmente a visitas oficiais: nele desfilaram, entre muitos chefes de Estado estrangeiros, o presidente americano Dwight Eisenhower, o presidente francês Charles de Gaulle e a própria rainha Elizabeth.
“Quem pesquisou e me contaria a história, ainda no primeiro mandato do presidente Lula (2003-2007), seria o responsável pelo setor de transportes do Palácio do Planalto, o coronel da reserva do Exército Paulo Renato Caldas Fayão, que também cuidou com carinho da frota presidencial durante os governos dos presidentes José Sarney (1985-1990) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2003).”
“Esta, portanto, é a versão oficial, do Palácio do Planalto, até hoje — e, veremos abaixo, ela está errada. Houve confusão com um segundo Rolls-Royce encontrado semiabandonado em uma garagem oficial em Brasília, mas agora não vem ao caso.
“A pá de cal sobre as diferentes versões a respeito do carrão veio com o terceiro volume da espetacular trilogia Getúlio, do jornalista e historiador Lira Neto. A verdade simples é que o carro foi encomendado pelo governo, junto com outro, durante o governo democrático de Getúlio Vargas (1951-1954).
“Está na página 258 do volume III de Lira Neto: “Em substituição aos Cadillac então em uso [pela Presidência], o Palácio [do Catete, sede do governo de então] encomendara à britânica Rolls-Royce uma limusine fechada e outra conversível com capota de lona (esta última serve até hoje ao Palácio do Planalto, sendo utilizada em solenidades especiais, como as posses de presidentes e as comemorações do Dia da Pátria, em Brasília).
“Porém, a firma importadora, a Companhia Comercial de Motores e Veículos, aproveitou a ocasião para trazer de cambulhada outros dois luxuosos Rolls-Royce, posteriormente vendidos a particulares”.
“A história completa, completíssima, utilizada por Lira Neto como fonte é o site Maxicar, portal especializado em carros antigos, que esgota o assunto de modo cabal, com todos os detalhes e minúcias possíveis. É um material muito interessante, que vale a pena ler aqui
“O curioso é que, tendo a própria versão oficial do Palácio e outras fontes disponíveis, a agência estatal Agência Brasil já tenha publicado a lorota de que o carro foi presente da Rainha da Inglaterra.”
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